quinta-feira, 24 de março de 2011

Tempo que Foge - Ricardo Gondim

Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente-mente mais percebendo que faltavam poucas, passou a roer o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas que apesar da idade cronológicas, são imaturas. Não quero ver os ponteiros dos relógios avançando em reuniões de “confrontação” para “tirar fatos a limpo”. Lembrei-me de Mario de Andrade, que afirmou: “as pessoas não debatem conteúdo, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos. Já não tenho tempo para ficar explicando se estou ou não perdendo a fé. Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente muita humana, que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a “ultima hora”, não foge de sua mortalidade, sabe ser madura sem perder o encanto, defende a dignidade dos descriminados e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto dessas pessoas nunca será perda de tempo.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A Fé Morta

Como a Fé de Jó, que movimenta montanhas, ou a Fé inexorável de Jesus Cristo. A Fé que é capaz de erguer obras mais contempladas, a que é o dom da cura. A Fé que salva, a Fé que mata... E quando o ultimo suspiro de desesperança bate a sua porta, a Fé se torna morta. É a ocasião mais triste e a agonizante de todas. Porque não existe raiva, ou nenhum tipo de sentimento forte o suficiente capaz de impulsiona-la pra qualquer que seja a direção. Apenas a Fé trucidada pela realidade vivida, a que é incapaz de realizar a menor das obras, que não pode enxergar nada alem do limitado par de olhos carnais humanos. A que não é capaz de curar um simples resfriado. A vida continua, e o tempo vai ajeitando tudo, ou não. Mais a fé, agora com “f” minúsculo, se encontra morta.

O Mundo em 8 minutos

Na minha frente meninas muito maquiadas, cheias de cilicone e plástica. Meninos se entupindo de anabolizantes. Todos em uma grande festa ouvindo um som pré-projetado, com uma felicidade moldada. (Por quem? Ninguém parou pra pensar nisso na verdade.) Com uma procura insana de aceitação social. Por essa aceitação social, eles são capazes de tudo, de desejar, de falar, e até de agredir seu irmão. Em um meio que nem eles mesmos sabem dizer realmente ser seu habitat. Onde a "reflexão essencial" aos poucos vai se distanciando, se tornando algo tão desemportante quanto os princípios ja esquecido lá atraz. E eu? Um mero maluco falando coisas sem sentido, tocando um violão na pequena janela do meu quarto, com vista privilegiada para a imensa babilônia.